O poeta por ele mesmo em Silva Freire: social, criativo, didático (1986, p.323-331):
FICHA SEM TÉCNICA
─ SILVA FREIRE ─ Benedito (por promessa de vida ao Santo Pretinho)
Sant’Ana (homenagem à Santa de devoção)
da Silva (da Mamãe, Joanna Euphrosina da Silva Freire)
Freire (do Papai, Randolpho Rodrigues Freire).
─ Nascido no dia da Revolução Farroupilha, a 20 de setembro de 1928, em Mimoso - Terra de Rondon -, mudado
para e registrado em Cuiabá, por causa das revoltas que, à época, morriam mesmo crianças e adultos.
─ Desde matunguinho pratica jornalismo cultural e poema moderno.
─ Advogado, se sente um vaqueiro do Direito Penal, aqui, no boqueirão da Amazônia.
─ Não tem “curriculum vitae”, só emoções petrificadas.
─ Com Wlademir Dias Pino, dirigiu a revista MOVIMENTO (e Disque foi premiada em Idaban, Nigéria, e Oxford, Inglaterra, em duas Conferências Internacionais de Imprensa Universitária). Com ele, também, o jornal JAPA, no Rio, edição única, prestigiada pela vanguarda que explodiu no concretismo e no poema processo.
─ Ferrando briga santa com a Academia Mato-grossense de Letras coordenou a FESTA DOS NOVOS, e ALGUMA
POESIA DENTRO DA NOITE, esta prestigiada pessoalmente por Manoel Cavalcanti Proença, cuia-cuiabano dos bão, mestre do ensaio e da crítica.
─ Fundou, também, com Pompeu Filho, VANGUARDA MATO-GROSSENSE, semanário com preocupação políticomunicipalista e alguma literatura meio mequetrefe.
─ Deu nome ao jornal CORREIO DA IMPENSA, sendo seu colaborador até seu último recesso.
─ Lá, no Rio, publicou Ferreira Gullar, com Osiris Come Flores. Daí é que Ele foi ser legendista na MANCHETE e abrir caminho rumo ao infinito.
─ Comeu água com o “ministro” Aurélio Buarque de Holanda, em Salvador, Bahia, durante o III Congresso Brasileiro de Folclore, rodando pelas pirambeiras do pau-baixo, garimpando palavras e ditos para sua obra dicionária. “Ministro” era o título daquelas noites, e nunca tão bem posto: Ministro das Palavras.
─ Tem um chumaço de recortes de jornais do Rio, São Paulo, Brasília, Goiânia e da Paraíba, ora alisando, ora desancando o “gênio”, mas vai indo com seus Cadernos de Cultura, já em n. de 13, que distribui nos bares, restaurantes, campo de futebol, cabarés (tá acabando tudo...), principalmente aos “analfabetos”, que depois dizem: “Gostei, mas não entendi nada”. São eles: 1º.: MEU CHÃO, PÁSSARO IMPLUME, ─ 2º.: CANÇÃO DO AMOR QUE TE QUERO, ─ 3º.: RIO-EQUILÍBRIO e A ESTRADA, ─ 4º: CHÃO ─ TERRA, PASTO, ─ 5º.: CAMPUS DE UNIVERSIDADE e CANTO: CRESPO-OLHO-ALHO, ─ 6º.: GOOL, CÍRCULO AZUL AO SUL DO AZUL, 7º.: OS OLEIROS, ─ 8º.: AS REDES, ─ 9º.: GIRO DO COURO CRU, ─ 10º.: OS MENINOS DE SÃO BENEDITO, ─ 11º: OS BOÊMIOS, ─ encicloPEDRAS, 12º.:, e 13º:, que foi o 2º: RONDON: SILENCIO ORGÂNICO DE FLORES. Depois tem mais.
─ Depois de colaborar nos jornais TRIBUNAL LIBERAL, GANGA, ARAUTO, SARÃ, FOLHA MATO-GROSSENSE, EQUIPE, O SOCIAL DEMOCRATA, O ESTADO DE MATO GROSSO (matéria vinda do Rio), DIÁRIO DA SERRA, de Campo Grande, O MOMENTO, de Corumbá, CORREIO DA IMPRENSA, JORNAL DO DIA, escreve, hoje, para a revista ESQUEMA e os jornais: O ESTADO DE MATO GROSSO, DEFESA, da OAB-MT, e jornal do Conselho Federal da OAB.
─ Vocação irresistível: quebrar pedra ao relento, à unha seca.
─ Destinação: ralar a bunda no caco de vidro sem chorar o sangue derramado.
─ Tem um tutano nos alicerces pré-jacentes da UNI-SELVA, eis que brigou um bocado pela recriação da Faculdade de Direito de Cuiabá, núcleo gerador do “campus”, fechada e refechada por falta de obediência às normas legais da União.
─ É professor titular do Departamento de Direito da UNI-SELVA ─
Universidade Federal de Mato Grosso, com 12 anos de vida, portanto, sem ter ainda tempo para errar, pois só agora ensaia sair do fazejamento e fazer o pensar para fazer ─ (conceito cunhado por seu jovem Reitor, Pedro Dorileo).
─ De livro que fica de pé sem precisar ser volume (aliás, mais vale um poema federal do que 10 livros municipais, e a literatura metropolitana, felizmente, virou abundância na província), ─ mas, ia dizendo: prá ficar de pé está aí ÁGUAS DE VISITAÇÃO, na 2ª. tiragem, tudo dado prá quem pode perder tempo. E vem logo-logo encicloPEDRAS, que está com o escritor Henrique Alves, em São Paulo, para ver o orçamento. Depois, sim; depois será outro depois, atrás dos bererês... Na fila, JAPA, contos da simplicidade. Sim, o ladrão que arrombou meu carro, também ficou com uns contos que já estou refazendo, sobretudo, LAVANQUINHA, MINHOCA E PINÃO PRETO, ─ O BAITA PORRE, ─A MORTE DE DOMINGÃO, XIRIRIII, ─USINA DE PINGA, MOENDA DA VIDA, ─CHICO CHOCHA COCHA, O SINEIRO, e um bando deles, todos já ilustrados por um dos 12 pintores primitivos daqui, que expuseram no MAM, Rio, em 82. ─ Leia, ladrão, leia esses contos, pois há muito da vida saltitante de sua infância rurbana... Depois, ladrão de literatura, me mande sua avaliaçõ para eu confrontá-la com a do João Felício dos Santos e do Ricardo Dick, os únicos que leram os originais e você.
─ Cabotinice esta Ficha Sem Técnica! Ah, outro “irresponsável” querido que me corporificou no maior jornal do país, ─ o JORNAL DE LETRAS (que desespero fazer esse monumento circular por esses matos culturais, pois me lembra o sacrifício, com Oswaldo Costa, no Rio, para fazer O SEMANÁRIO, da Frente Parlamentar Nacionalista. Eu dirigia o Suplemento Universitário do jornal, e formava no grupinho de pedição de na anúncio para ajudar na compra do papel. Nesse Suplemento, com um crôni-conto, é que o Milton Coelho da Graço, hoje, editor de O GLOBO, ─ se revelou, e até arrumou namorada de permanência, sua leitora em Salvador da Bahia). Veja só minha educação!, nem agradeci ainda o Gilberto Mendonça Telles, crítico de letras, pela atenção estudiosa de minhas delinqüências literárias, no Jornal de Letras; ─ MS lhe tenho desejado sempre uma boa morte, comportada em linha de poema. Quer ver outra “porcaria” que cheira, porque tem muito “perfume” que fede, por aí, ─ é o Moacir Felix, da “Encontro com a Civilização Brasileira”. (Eu sei que o Moacir é com ipsilone. O problema que ficou poblema é que o Carlinhos (da Solivetti) me deu uma Olivetti elétrica com o ipisilone do Moacir estragado).
─ Sim, me lembro: tenho um título, já em desuso, ─ o de cassado, em 64, na primeira ou segunda lista. Ficou ruim, depois, porque, daí, cassaram corruptos e não disseram que eram. Uma mistureira. Desorgulhei.
─ ( ) Por cima, agora, dia 16 de dezembro de 1982, às 17,48 hs., aqui na rua Cândido Mariano, 707, Cuiabá, Mato Grosso, CEP 78.000, meu escritório advocatício, ─ cortou a luz. Fui à porta da rua. Passaram dois trumbufús-de-bota, coxas grossas e encardidas como tronqueira antiga de curral-de-viúva, cada qual com uma mini-sáia copacabanapalmente na remoda. Que invento angélico-infernal, a mini-sáia: desveste até o ridículo! Pois lá vai o andar delas; delas, não, dessas: um desengonço remexitivo: arrrebola, arrebola, arrebola, vira e mexe...
─ Diacho de solidez de solidão rajada em cinza, como breu-da-noite, nesse céu sem cisão de canca d’água já semostrativo. Dezembro. Cheia. Rio Cuiabá empapuçado de boi-afogo..., e nós, aqui, vivendo, sobrevivendo, supervivendo à luz de amigos que nos povoam, lá aqui, longíquos.
─ Outro dia fiquei gostando desses poemas: OS PEIXES, ─ CAMINHOS NA COSTURA DO RIO. Estão ─remastigados de mim, mais do que O GAMELEIRO, O POAEIRO, outros. Ando pensando se faço um cheque com o dinheiro da primeira prestação da impressão deles, e mando para nossa dívida externa (que falta de tato); Dívida-Externa é nome de respeito, nome próprio composto, substantivo epiceno, comum de dois, surumbático, hipocondríaco futebol clube! Escreve-se com letra grande, maiúscula, caixa alta, CAIXA ALTA, - DÍVIDA-EXTERNA. Ora, doar jóias, outra vez, perdeu a criatividade; administrar o repetitivo, sim, hoje é original, por causa da sengraceira que fica. Afinal, o Banco é bom, e, a dívida, é dívida da dívida divina que ficou dividida, e juros dos juros e Judas de Aleluia que terão, dum dia, seu F(M)IM!
─ Não, não me esqueci: Daniela (pensando em medicina de análise) passou por média, no segundo colegial, o São Gonçalo; ─ Larissa, idem, na quarta ginasial, do Pequeno Príncipe para o São Gonçalo, falando em arquitetura); ─ Murillo (um éle é dele mesmo, o outro, homenagem ao Murillo Mendes) também furou por média, e anda falando em agronomia. Com Larissa faz pintura, e, com todos, natação. A Glenda passou arranhando para o terceiro primário, ainda no Pequeno Príncipe. As paredes vivem empencadas de medalhas, até do último encontro Centroestino, com índice técnico para JEBS, a Glenda e Larissa: costa, peito, borboleta, craw (tá certo?).
─ A Leila, minha vítma, como me ensinou o querido Carlos de Araújo Lima, recupera, conosco, o ponto de equilíbrio emocional, depois da tragédia que nos levou William, 24 anos (cunhado-filho-irmão, tio-irmão de meus filhos).
─ Neste sábado tenho que ir à Cachoeirinha, meu sítio, na ante-sala do pantanal, região mais chamada lixeiro, pelos muitos capões de árvore retorcidas dessa espécie. Tem reza de são Bento, padroeiro-protetor dos animais de cria contra mordida de cobra venenosa, vôte! Vai ter função de cururu, siriri, reza cantada e licor de leite e pinga pura, quase restilo só, caseiro. A companheirada (não sou capaz de ser patrão), depois da quinta talagada, tá só que canta e que canta maludação sertaneja. Uma delícia, quando vai beirando lá pelo cú da madrugada, e, o bate-pé, geometrizando a coreografia, fica assim de poeira fininha ardendo a cantoria no nariz da gente, que o chão enchumbrado d’água, cedo, na boquinha da noite, virou puva...Mais outra talagada para agradar a raiz da palavra, abão!
─ Já vou para o aperitivo estatutário lá na roda do Chopão (nosso Bar do Lamas, do Largo do Machado, Rio, que foi para a Marquês de Abrantes, 18, onde fizemos os melhores discursos...) Por isso o revivemos no Choppão: Gentil Bussik (poeta, advogado, compositor, cantero e toquero de violão e anedotista); Wlademir Dias Pino (libero, bisexto, pau prá qualquer obra, da comunicação visual ao poema processo; Renato Pimenta (criminalista, poeta introspectivo, sociólogo do flagrante); Carlos Cuiabano (engenheiro eletricista, brigador e leitureiro de sensibilidade criativa); Ramis Bucair (espeleólogo, poeta das formas expostas no Museu de Pedras; Carlão (poeta, professor de literatura e carioca); Alci de Moraes (filósofo de papel passado, respingado de sereno madrugadeiro); Ubaldo Monteiro (o que estuda as palpitações do povo), e a roda vai aumentando, principalmente sábado, depois das 11,00 hs, a cada toque de comandante que chega.
─ Nessa turma, até já disseram que sou práxis, experimental, estrutural, contra-estilo e que tais, não é mestre Ojeda! Tão inventando coisa! Ora, o “futuro interior” está aí, no batente da porta. E o Manifesto do Trianon, em São Paulo, solenizou, outro dia, a burocracia do ponto final do Modernismo, proclamando: ‘PARIS PARIU BRASIU”, só que, nós, daqui da Tribo...:Cuiabá vomitou o Intensivismo, em 1951, documentado nas páginas de Sarã, com impressão sobreposta, a cores, ilustração xilogravada (taquinhos de madeira trabalhados a canivete pelo Wlademir, que roubávamos do piso da pensão, escondendo os buracos com a velha mala cor de cofre, até que fomos expulsos...).
─ Bem, hoje a Turma do Esquadrão do Internacional (Rubens de Mendonça, Agenor Ferreira Leão, Antíoco do Couto, b. Scaf Gabriel, Hilton Martiniano, Herman Pimenta, Augusto Pimenta, Belmiro, Tocantins, Hélio Palma, Ronaldo de Castro, ─ tudo poeta, jornalista, professor, secretário de Estado, farmacêutico, etc) ─ comemora o motivo de não ter motivo. Daqui a pouco, haja Deus!, é pedir
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . O ... que o boêmio se faz
. . . . . . . . . . . . . . . . . . I . (quase frágil)
. . . . . . . . . . . . . . . . . C . . na placenta da madrugada
. . . . . . . . . . . . . . . N . . . .
. . . . . . . . . . . . . .E . . . . . .
. . . . . . . . . . . . .L . . . . . . .
. . . . . . . . . . . I . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .S . . . . . . . . . .